Das Urteil für Felice B. Uma visão geral da prosa kafkiana.

     Das Urteil (O Veredicto) für Felice B, Uma visão geral da prosa kafkiana. 


By Pedro Marcos Queiroz. 12/2021.





    Difícil pelas mais diversas perspectivas possíveis, mensurar o peso da figura de um escritor na vida de um jovem. Mais difícil ainda é quando se demonstra particularmente, como escreveria Lispector em um de seus trabalhos mais geniais:

         
Clarice Lispector

  "
Este livro é como um livro qualquer. Mas eu ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada. Aquelas que sabem que a aproximação, do que quer que seja, se faz gradualmente e penosamente - atravessando inclusive o oposto daquilo que se vai aproximar. Aquelas pessoas que, só elas, entenderão bem devagar que este livro nada tira de ninguém. A mim, por exemplo, o personagem G. H. foi dando pouco a pouco uma alegria difícil; mas chama-se alegria. C.L." (A Paixão Segundo G.H, Lispector, Clarice. 1964).

    Por longas e retraídas vezes, a identificação pelo sofrimento nos faz perceber de maneira intuitiva que aquela dor que está sendo exposta de maneira expectorante, é também nossa. Dor essa exposta por meio de uma estilística, que no caso de Franz Kafka tende sempre a um absurdismo (quase prosaico) que rasga por dentro, sendo a escrita e os temas a fina lâmina empunhada pela mão sofrida que executou os tais golpes. E que golpes. Que sequência de golpes magistrais. Magistrais ao ponto de que haja prazer em experienciar aquela catarse tão decorrente da identificação já citada. Kafka nos faz masoquistas.

    No entanto e apesar de tudo, citando novamente outro autor(genial), outro escritor de língua alemã: Hesse

Herman Hesse

"Ninguém pode ver nem compreender nos outros o que ele próprio não tiver vivido." (Hermann Hesse).

    E chegamos então ao grande ponto que permeia toda e qualquer condição de literatura humana que lide com o sofrimento: só se torna um com o livro quando aquele livro é um com você. O grito que está naqueles caracteres é o mesmo urro gutural que se lança quando por meios intuitivos se "entende"(ao decorrer da leitura) Lispector, Kafka, Dostoievski, Camus e por aí vai. Somente aquele indivíduo que compreende veementemente a presença cotidiana e prosaica do absurdo e do sofrido na sua própria vida percebe que em seu âmago a obra desses autores de absurda ou surrealista não tem absolutamente nada.

    Em "O Veredicto", que no Brasil já foi traduzido como "A Condenação", Kafka nos remete uma trama extremamente simples: O conflito de um homem, sua esposa, seu amigo próximo, um pai, o que é entremeado por uma compressão psicológica tremenda e um estilo claustrofóbico. Suprimindo informações importantes para quem tenha interesse em ler, o escrito se dá basicamente na condição do conflito entre pai e filho, pelo paralelo doentio que há entre este filho e sua esposa e seu "amigo". Tudo vai de zero a cem de maneira colérica, e terminamos ali com o tal final kafkiano que não fala nada mas que no entanto diz muitas coisas. Leiam esse. É uma experiência que chega próximo do divino. Confesso que foi um tremendo divisor de águas.

    Devo também colocar para quem lê, que por via de fato, este texto deveria vir de outra forma, até comentei com alguns de vocês que pensaria em propô-lo de outra maneira. Mas não veio e por alguns motivos: não consegui conceber daquela forma tanto por presumir que seria leviano e por perceber pelo contato com outros textos do autor, que Kafka por mais que sejamos tentados, é imprevisível e não se submete(ou não deve) a nenhuma base ou perspectiva hermenêutica, de interpretação.

Franz Kafka

    Acabei de citar que tive contato com outros textos do autor, que hoje é de meus favoritos, e além de todos os elogios que se possam escrever sobre todas as qualidades do homem como escritor e como ser-humano, é inevitável,(voltando ao início do texto para concluí-lo), que não haja uma proximidade, infelizmente, deponho que bastante dolorosa. Mas dolorosa e negativa não  diz
subjetivamente que me deprima: pelo contrário, me dá forças em seguir, apenas por saber que estou longe de estar sozinho hoje, se baseando num homem franzino fisica e "mentalmente", mais de cem anos atrás, usou de seu sofrimento tremendo para imortalizar-se. 

Dói, rasga por dentro, mas aprendemos todos a nos suturarmos a cada dia. As feridas são inatas à natureza humana e novamente:

    "Hoje sei muito bem que nada na vida repugna tanto ao homem do que seguir pelo caminho que o conduz a si mesmo." (Hermann Hesse).

Agradeço a leitura e a atenção. Até a próxima!
 

Comentários

  1. É engraçado quando mesmo sem ter tanto tempo para ler, a sua escrita me prende até o final. Ótimo trabalho amigo!

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  2. kafkinha é um dos meus xodós, mas sua escrita também chega bem perto, viu? que coletânea de pensamentos seus e alheios bem colocada e escolhida. simplesmente perfeito, pedro. que você continue dando golpes magistrais também como o franzininho <3

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